top of page

CAMMING – 101 noites (2021)

 

Dramaturgia, direção e performance Janaina Leite

Sinopse

Em “Camming – 101 noites”, a diretora e performer Janaina Leite relata a experiência do trabalho realizado em plataformas de sexo virtual pago durante a pandemia, fazendo da pornografia um meio para problematizar os limites entre representação e performance, arte e vida, gênero e poder. A performance virtual e interativa, criada no contexto da pandemia e apresentada somente online, joga com a estrutura de trabalho das “camgirls”. Nessa performance, Janaina Leite retoma a figura mascarada de “Stabat Mater”, se propondo a aprender “como ser um camgirl”. Preparada por Anita Saltiel, camgirl profissional e atriz pornô que integra o processo de “História do Olho”, Janaina Leite se colocou como aprendiz para realizar esse verdadeiro experimento antropológico. A frase “Você gosta só de olhar ou posso conversar com você?” citada no espetáculo, pertence ao roteiro dramatúrgico que Anita disponibilizou para Janaina como ganchos de relação, abordagens, sustentação da relação com os clientes. O subtítulo 101 noites faz referência ao livro “As mil e uma noites” em que Sherazade precisa entreter o sultão com suas histórias, noite após noite, para não ser morta. Joga, de um lado, com o trabalho das camgirls que precisam manter a atenção dos clientes (visto que elas ganham por minuto então parte do trabalho delas não é sexual, mas erótico, imaginário, dramatúrgico, terapêutico de forma a prender a atenção do espectador/cliente pelo máximo de tempo possível), de outro, se refere ao tempo que Janaina se dedicou a essa experiência durante o período auge do isolamento social devido à pandemia: 101 noites. Quase 400 horas de arquivo, duas mil páginas transcritas, compõem o arquivo dessa performance de longa duração, a partir das quais Janaina prepara um livro e um filme em parceria com a cineasta Lillah Halla recriando a jornada das 101 noites. 

Histórico

A performance online teve sua pré-estreia na MIT+ e foi ganhador do edital Proac Lab em 2021. O trabalho também foi apresentado no Festival do Porto e Teatro Viriato em Portugal, no Festival Midrash no Rio de Janeiro e no Seminário de Pesquisa e extensão da USP.

Críticas:

[...] “De fato, é uma realização no limite entre a arte e a vida, entre a expedição desbravadora e a produção de beleza, ambas desenvolvidas nos silentes desvãos da sexualidade in vitro. E daí a maior riqueza, força, pertinência histórica. Justamente quando o último rincão da teatralidade é a superfície luminosa das telas, neste jogo franco e radical em que tudo pode acontecer, parece que as imagens transcendem sua imaterial insignificância e ganham ares de presença e trespassam, atravessam corpos e sonhos e vozes.”

Luiz Fernando Ramos, crítico e pesquisador, Revista Sala Preta

“19h15: Entro na sala de espera. Sou recebido com um caloroso “Please wait, the meeting host will let you in soon” estampado na janela do computador. A sessão estava marcada para as 19h20. Disseram-me para comparecer na sala cinco minutos antes do começo e assim o fiz. Ao longo do dia as minhas mãos e pés frios foram-se humedecendo numa uma fina camada de suor pegajoso que ameaçava gear a qualquer instante; a minha perna direita recusava ficar quieta, prendia-se num cima-baixo constante; o meu estômago implodia lentamente sobre o vácuo de si mesmo — estava borradinho de medo, metaforicamente falando. Começo a questionar seriamente se foi inteligente ter aceite a proposta. Quando o João Ribeiro, meu editor, partilhou a ideia comigo, a mera menção da “História do Olho” bastou para que me atirasse de cabeça nisto, qualquer desculpa para escrever algo sobre o opus de George Bataille servia-me. Agora aqui estou eu, a corroer os nervos de incerteza. O que me espera? Que diabos vai ela fazer comigo?” 

Duarte Cabral, “Camming: A história de um olhar virtual”, em Shifter, Porto, Portugal

Ficha técnica:

CONCEPÇÃO, DIREÇÃO E PERFORMANCE: Janaina Leite

DRAMATURGISMO: Lara Duarte e Lillah Halla

PARTICIPAÇÃO ESPECIAL: Anita Saltiel

EDIÇÃO: Mateus Capelo

DIREÇÃO DE PRODUÇÃO: Carla Estefan e Metropolitana Gestão Cultural

Galeria de Fotos:

bottom of page